Primeiro CRI de Oftalmologia Pediátrica criado no CHULC
A intenção do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central (CHULC) de criar o primeiro Centro de Responsabilidade Integrado de Oftalmologia Pediátrica, foi conhecida publicamente no último Dia Mundial da Criança. O anúncio a 1 de junho foi intencional. Eduardo Silva, coordenador do projeto, explicou à reportagem do ACONTECE que sendo este o ano da “visão perfeita”, e sendo este CRI específico para crianças e jovens, a chamada de atenção para a sua criação só poderia acontecer naquele dia. O novo CRI ainda está em formação, prevê-se que entre em funcionamento até ao final do ano, e irá revitalizar o serviço existente naquele centro hospitalar.
A autonomia de gestão trazida pelo novo modelo foi essencial para que Eduardo Silva acordasse com a administração do CHULC coordenar a sua implementação. O desafio passa por conseguir desenvolver “uma unidade com capacidade de resposta multidisciplinar, onde não se exerça só medicina tradicional, mas que consiga chegar mais longe. Uma das propostas, por exemplo, é a de termos o sistema de teleconsulta internacional, para conseguirmos dar respostas fora do standard”, explica o médico.
A abertura além-fronteiras está direcionada sobretudo para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Os pedidos de ajuda que chegam dos PALOP são elevados e, o especialista, defende que a utilização da teleconsulta pode ser uma ferramenta de primeira resposta, dando orientações clínicas e de tratamento aos profissionais do país de origem. Apenas os casos mais difíceis serão evacuados e trazidos para tratamento – “há muitos casos em que a deslocalização da criança é desnecessária e assim poderá ser evitada”, argumenta. O uso da telessaúde deverá ser diferenciado e ter vários formatos e destinos, como por exemplo, um meio de reunião de diversos especialistas que estudam o mesmo caso. O especialista do CHULC vê vários benefícios na sua utilização. Mas confessa que o estímulo inicial passa por mostrar resultados de referência.
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A formação da equipa no Hospital Dona Estefânia, onde o serviço ficará sediado, está em marcha. De um serviço constituído apenas por um profissional a tempo parcial, o CRI de Oftalmologia Pediátrica passará a funcionar com mais de duas dezenas de profissionais, preparados para darem resposta a todas as áreas de oftalmologia pediátrica. Incluirá um serviço de atendimento permanente, aberto todos os dias úteis, entre as 8h00 e as 19h00. Haverá também otimização das instalações, como no caso da cirurgia, que passará a funcionar sem horário rígido. As novas regras, como a flexibilidade horária, irão melhorar a produtividade. Está previsto que o aumento de atividade dos profissionais seja premiado e isso, acredita Eduardo Silva, levará a uma maior motivação. São os benefícios que o novo modelo de gestão permite implementar no SNS, e que o torna mais atrativo.
O coordenador do CRI de Oftalmologia Pediátrica do CHULC tem um percurso incomum, diferente de grande parte dos médicos que exercem saúde em Portugal. Este especialista deixou o exercício exclusivamente privado para agora se dedicar ao SNS. A opção pela mudança foi tomada por motivos pessoais. “Eu era 100% privado. Mas o apelo para regressar ao SNS era enorme. Primeiro, porque acho que as crianças que não têm a possibilidade de recorrer a serviços privados, têm o direito a cuidados de tão alta qualidade como os que acontecem em alguns centros privados. Por outro lado, havia também o chamariz do ensino. De facto, estar dentro de uma instituição que é hospitalar e universitária permite que haja uma passagem de testemunho, que haja a capacidade de fazermos mais e melhor e que ensinemos as novas gerações a fazê-lo”.