CRI de obesidade eficazes na redução de listas de espera para cirurgia
No Serviço Nacional de Saúde são já dois os Centros de Responsabilidade Integrados (CRI) dedicados à área da obesidade: no Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga (CHEDV) e no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ). Em menos de um ano de atividade, foi possível reduzir o número de utentes em lista de espera.
Um CRI é uma estrutura orgânica de gestão intermédia, dependente do Conselho de Administração do hospital, com autonomia funcional e um compromisso de desempenho económico-financeiro e assistencial, contratado anualmente com base num plano de ação renovado de três em três anos.
O Centro de Responsabilidade Integrado de Obesidade do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (CHEDV) foi criado em setembro de 2018 e iniciou funções em janeiro de 2019, sobretudo “por se ter considerado que estavam reunidas as condições necessárias à constituição da equipa e ao seu funcionamento”, afirma Mário Nora, diretor do serviço de cirurgia geral do CHEDV, ressalvando que para tal foi essencial a publicação em 2017 e 2018 de legislação relativa ao modelo de funcionamento dos CRI nas entidades públicas empresariais do SNS.
No momento da criação deste centro, foram propostas as seguintes metas a três anos: 400 doentes operados em 2019, 420 em 2020 e 440 em 2021. Até finais de outubro, o hospital tinha operado 362 doentes, prevendo-se atingir a meta de 2019 até 31 de dezembro, realça Mário Nora. A lista de inscritos para cirurgia de obesidade no CHEDV tem vindo a diminuir – passou de 357 doentes no final de 2018 para 216 doentes em setembro. Num dia, este serviço consegue realizar até 10 bypass gástricos.
O presidente do Conselho de Administração, Miguel Paiva, salienta que a atividade do CRI permitiu uma melhor utilização da capacidade instalada na área da cirurgia e que o objetivo agora passa pela utilização da capacidade cirúrgica do bloco da unidade de São João da Madeira. A agilidade do modelo de gestão, que inclui incentivos financeiros, tem permitido motivar as equipas direta e indiretamente envolvidas a dedicarem mais tempo de trabalho ao hospital.
Enquanto unidade de média dimensão, o CRI constitui uma forma de atrair profissionais diferenciados de grande qualidade e retê-los no SNS. O aumento de procura tem dado uma maior notoriedade ao CHEDV, sendo já uma referência não apenas na área da obesidade, mas também de endocrinologia. O CRI de obesidade do CHEDV abrange um conjunto alargado de profissionais que asseguram quatro procedimentos cirúrgicos: colocação de banda gástrica, gastrectomia linear vertical, bypass gástrico e derivações bílio-pancreáticas.
Os profissionais envolvidos estão parcialmente dedicados a esta atividade, prosseguindo as suas funções em outros serviços do hospital. A equipa inclui cirurgiões gerais, endocrinologistas, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, nutricionistas e assistentes técnicos e operacionais. Os incentivos serão atribuídos no final do ano, à luz dos resultados alcançados e cumprimento das metas. “A equipa está mais satisfeita e motivada porque trabalha por objetivos e é-lhe reconhecido o devido valor”, diz Mário Nora. Para Mário Nora, a retoma do pagamento dos incentivos aprovada no ano passado, através da Portaria N.º 245/2018, de 3 de setembro, foi “uma boa medida de encorajamento”, essencial para o aumento da produção assistencial da obesidade e a redução da lista de espera. O CRI constitui um novo modelo de administração clínica que potencia mais valias na produção, realçando que este serviço recebe doentes de outras áreas de influência.
Por fim, o responsável do CRI do CHEDV sublinha que a obesidade não se deve resolver com cirurgia, mas sim com prevenção. “No CHEDV apenas tratamos dos casos de obesidade mais graves, designadamente a obesidade mórbida ou de grau II sendo, no entanto, muito importante a promoção por parte do Ministério da Saúde de medidas tais como um investimento continuado na prevenção, nomeadamente através da promoção de estilos de vida saudáveis e da literacia em saúde”, acrescenta.
Hospital de São João replica os bons resultados
À semelhança do CHEDV, também o CRI do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), garante resultados positivos. Com apenas dez meses de atividade, desde janeiro, a lista de espera para cirurgia no CHUSJ diminuiu para cerca de metade do tempo apresentado antes da sua criação. Por semana são efetuadas entre 12 e 14 cirurgias.
Para um hospital de grande dimensão como CHUSJ, o “CRI resultou numa melhoria da capacidade de resposta, onde o utente e a sua patologia são o centro”, conforme explica o diretor John Preto. Mais factos que evidenciam os resultados de excelência: desde a sua implementação, a taxa de mortalidade é nula e não se registou qualquer cativação de vale-cirurgia (um vale emitido ao utente quando o hospital que devia efetuar a cirurgia, não a consegue realizar dentro do tempo estipulado).
Este último dado reflete a confiança que os doentes depositam no CRI, escolhendo-o para acompanhamento do seu caso ao invés de serem transferidos para uma outra instituição hospitalar. Graciana Fernandes, de 35 anos, esperou dois anos pela cirurgia que acredita ser capaz de lhe mudar a vida. Os 125 kg já a impediam de ir trabalhar. Um dia depois da intervenção cirúrgica, as diferenças já eram notórias. “Como 2/3 colheres e já me sinto cheia. Portanto já noto diferenças”, conta Graciana, que se mostra satisfeita com toda a equipa que a acompanhou. Arminda Monteiro, outra utente seguida no CRI do CHUSJ, corrobora.
Para além da melhoria ao nível do acesso e da qualidade clínica, John Preto entende que esta mudança de paradigma permite também uma melhor gestão dos recursos humanos da instituição. Neste CRI a equipa constituída por mais de 40 profissionais, trabalha em dedicação exclusiva, sendo que apenas os cirurgiões afetam algumas horas ao serviço de urgência. Para John Preto, a produtividade é maior quanto maior a exclusividade da equipa, e para isso não bastam os incentivos estabelecidos pela legislação. “Por ser um projeto inovador, a equipa sentese valorizada, e isso reflete-se no trabalho diário deste centro.
Para além disso, os incentivos irão permitir investir na formação dos nossos profissionais e essa é sempre uma mais-valia”, salienta. Depois de ultrapassada a dificuldade no processo de criação e implementação do CRI, cuja base assenta total e integralmente na Portaria n.º 71/2018, de 8 de março, a equipa, em conjunto com o Conselho de Administração, está atualmente a discutir as metas e os indicadores do próximo ano, que serão o resultado de uma afinação da experiência já adquirida.
Quanto às metas a estabelecer a três anos, a direção está a equacionar medidas que incentivem à promoção de hábitos alimentares saudáveis e de uma vida ativa, nomeadamente, através de workshops promovidos não só pelo CRI, como pela própria instituição