A saúde das cores, sons e afetos

O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa lançou um concurso de ideias para projetos que promovessem melhorias para os utentes e profissionais de saúde. Recebeu sessenta, priorizou-as e, um ano depois, tem em prática várias iniciativas que estão a melhorar a vida no hospital. O projeto Humanizar+ ajuda os doentes e cuida de quem tem a missão de prestar cuidados de saúde.

Bastam pequenos gestos, muitas vezes “pequenos nadas”, para fazer toda a diferença na motivação dos profissionais e no bem-estar dos doentes e das suas famílias. Com ganhos de eficiência e, espera-se, resultados que demonstrem maior eficácia dos serviços hospitalares. No Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), a administração recolheu ideias, deu prémios, sistematizou-as e atribuiu-lhes prioridades. Arregaçou mangas e pôs em marcha várias medidas que têm contribuído para a melhoria dos dados de desempenho e produção daquela unidade hospitalar. “Estamos
a aumentar o hospital por dentro”, explica José Ribeiro Nunes, Enfermeiro Diretor e um dos dinamizadores do Projeto Humanizar+, que há um ano tem vindo a ser desenvolvido pelos profissionais das unidades de Penafiel e Amarante.

Reconhecendo a necessidade de melhorar, a administração do CHTS começou por lançar um concurso de ideias aos funcionários, desafiando-os a apresentarem iniciativas que promovessem e implementassem uma cultura centrada no utente, tendo em conta um de cinco eixos distintos: Humanização na Prática Assistencial; Informação e Comunicação; Profissionais: Agentes de Humanização, Espaços, Acessibilidade e Conforto; e Envolvimento e Participação dos Cidadãos.

Os trabalhadores mobilizaram-se e apresentaram um total de sessenta projetos. A implementação de grande parte das ideias está já em curso e os ganhos são evidentes. “O suporte da administração é total”, garante o presidente do Conselho de Administração. Carlos Alberto elogia “o envolvimento e o entusiamo de todos”, incluindo o seu.

Tal como todos os funcionários, o responsável pela gestão da unidade frequenta as sessões de relaxamento que se realizam na unidade. Ao longo do último ano, os trabalhadores envolveram-se e experimentaram meditação terapêutica com taças tibetanas ou o Clube do Riso, com benefícios ao nível da diminuição do stress e ansiedade, prevenindo o burnout e fortalecendo o sistema imunitário. “Cuidar de quem cuida” é o lema, encarado inicialmente com alguma reserva por quem era chamado a participar. “Primeiro tivemos que fazer o caminho das pedras”, explica o presidente da instituição. No entanto, aos poucos, as vantagens foram tornando-se evidentes.

Hoje, uma dezena de medidas concebidas para os profissionais já estão em prática, com lista de espera, como as sessões de Mindfulness, de Motivação e Relaxamento, de Felicidade e Inteligência Emocional, de Risoterapia ou de Musicoterapia. A “mudança leva à inovação”, reforça José Ribeiro Nunes. “Por vezes fazemos as coisas avulso, mas se não sistematizarmos, não conseguimos avaliar”. Um ano depois de ter sido posto em prática, os primeiros resultados do Programa Humanizar+ ainda vão ser avaliados.

Embora já se perceba o sucesso. A par das melhorias emocionais, a administração do CHTS decidiu também investir em novo material. Adquiriu recentemente, por exemplo, duas centenas de novas camas articuladas, que darão maior comodidade aos doentes. “Este é um bom investimento, não é uma despesa”, assegura o presidente Carlos Alberto.

A cuidar de quem precisa

Há um espaço novo nas instalações hospitalares de Penafiel. Foi batizado como “Sala de Más Notícias”. O nome é indicativo. Naquele ambiente mais intimista, os familiares dos doentes recebem a notícia que não querem ouvir. Recebem-na com privacidade, sem o olhar dos outros, acompanhados por profissionais e decorado como se estivessem no conforto do lar, sendo-lhes dado tempo para recuperar e desabafar. Vários serviços foram redecorados, para proporcionar maior comodidade aos utentes, família e profissionais.

As novas decorações são visíveis nas salas de espera, no serviço de Pediatria ou nos blocos operatórios, onde a música ecoa para ajudar a criar um ambiente menos hostil. O daltonismo, uma perturbação que impede a diferenciação das cores, levou à adoção do sistema ColorAdd, baseado na atribuição de símbolos às cores. É mais um ganho de qualidade que contribui para a melhoria do acesso aos cuidados de saúde para todos.

De entre tantas mudanças e novidades, destaca-se o inovador Crescer com Afetos, desenvolvido desde 2015 no serviço de Neonatologia por uma equipa multidisciplinar. Os profissionais fazem o acompanhamento das famílias, ensinando novas técnicas, como o toque nutritivo ou o método canguru, que ajudam os pais a estabelecer uma relação próxima com o bebé que está em incubadora. Os irmãos são também acompanhados de forma especial. As crianças são convidadas a levar desenhos ou fotos de família.

O serviço oferece-lhes uma boneca de arroz, cheia com o peso do bebé prematuro, que poderão aprender a cuidar, para que, quando o novo elemento da família chegar a casa, ajudem no seu desenvolvimento. Entretanto o bebé prematuro não fica sozinho no seu isolamento. Cada um recebe um polvo terapêutico, feito em croché por voluntários da comunidade que, segundo a médica Filipa Miranda, simula o cordão umbilical e o útero da mãe, tornando familiar o espaço que lhes serve de berço.

Paula Guimarães, presidente da Comissão de Humanização do CHTS, que gere o Humanizar+, conta vários exemplos do muito que se está a fazer e sobre a transformação em marcha. “Antes do Natal recebi um telefonema de uma colega, muito preocupada com um doente de Cinfães que estava muito triste por não receber visitas. Era gente simples e a família não tinha dinheiro para vir até Penafiel para o visitar”. A situação emocionou as equipas, que implementaram um sistema rotativo de visitas àquele doente, contribuindo desta forma para a sua recuperação. Chegaram mesmo a preparar-se para o animar no dia 25 de dezembro, mas tal acabou por não ser necessário, uma vez que o homem foi transferido para o hospital da sua área de residência.

Quanto ao futuro, Paula Guimarães não tem dúvidas de que será para “continuar”. Há primeiro que avaliar os resultados das medidas já adotadas, mas com as muitas iniciativas propostas, há necessidade de prosseguir com esta fórmula que tem melhorado a motivação e o ânimo de todos, incluindo da comunidade, também envolvida no que está a ser desenvolvido pelo seu hospital.

Diferentes atividades têm acontecido na cidade, junto da população, de lares de idosos e das escolas. Por exemplo, no “As tuas mãos salvam vidas”, a equipa de enfermagem do Serviço de Urgência Pediátrica ensina Reanimação Cardiopulmonar ou a ligar para o 112. Cerca de 1800 crianças, com idades entre os 5 e 8 anos, estão hoje mais preparadas para reagir se necessário. É preciso humanizar os cuidados de saúde. No Serviço Nacional de Saúde este é um novo conceito que se vai alargando, de serviço em serviço, de hospital em hospital. E a palavra de ordem é mesmo “continuar”.