O Utente no centro do SNS

Como vai funcionar o novo sistema de Livre Acesso e Circulação no Serviço Nacional de Saúde? Qual a reação de profissionais e utentes? Porque é que esta medida pode melhorar o funcionamento do SNS? O ACONTECE visitou, em meados de maio, o ACeS de Póvoa do Varzim / Vila do Conde, uma das unidades piloto do novo sistema e percebeu porque é que médicos e doentes aplaudem a iniciativa.

 O novo sistema de Livre Acesso e Circulação (LAC) do Utente no Serviço Nacional de Saúde (SNS) “é um grande avanço… estou muito satisfeita!”. O estado de alma da médica Maria José Campos, diretora clínica dos ACeS de Póvoa do Varzim / Vila do Conde reflete a reação dos dirigentes, profissionais e utentes desta unidade de saúde, uma das que acolheu, a meados de maio, os ensaios sobre a nova funcionalidade que permite referenciar um utente para consulta de especialidade e cirurgia, e que passa a integrar os sistemas de informação SClínico CSP e CTH.

LAC_diretora clinica USFVila do Conde

“Estamos a cerca de 30 quilómetros do Porto, com bons acessos e transportes, e era frustrante não poder referenciar diretamente para o São João ou Santo António”, sublinha Judite Neves, a diretora executiva da mesma entidade. É tempo que se deixa de perder, é um favor a um colega que já não se pede, é menos incómodo do “vai e vem” para o doente, é menos incerteza quanto ao futuro, é cuidar melhor, é prevenir o agravamento da doença, é reconhecer o profissionalismo do médico de família, é, no fundo, melhorar o SNS. Uma síntese que reflete as diferentes opiniões que se vão ouvindo durante a visita que o ACONTECE fez à Unidade de Saúde Familiar de Santa Bárbara, situada em Vila do Conde.

António José Costa, de 74 anos, conhece a aflição da doença e a incerteza sobre como será tratado e por quem. A unidade “para onde fui enviado não me dava certezas sobre o melhor tratamento. Não me deram esperança. Foi muito penoso”. Valeu-se de conhecimentos para conseguir ser cuidado no Hospital de Santo António (Porto). Assim prefere e assim quer continuar, por isso, aplaude a oportunidade de escolha decidida pelo Ministério da Saúde. “É muitas vezes ridículo o que se passa. Termos, por exemplo, um doente que precisa de realizar dois exames e, porque não podemos referenciar, temos que o mandar fazer um dos exames numa unidade de saúde e o outro exame noutra”, acrescenta a médica de família que acompanha António.

Utente do LAC

Mas “para tudo é preciso bom senso”. É o que os médicos de Vila do Conde esperam que aconteça com o novo sistema. Teme-se que a LAC possa levar ao “entupimento” dos serviços em alguns hospitais, enquanto noutros se assista a um esvaziamento. É por isso que será necessário existir o tal “bom senso”, tanto por parte do médico de família que referencia, como do utente.  É necessário avaliar cada caso, para perceber qual a melhor solução, sempre a pensar no doente. “Por exemplo, se um jovem de Vila do Conde estiver a estudar em Coimbra, é natural que, se necessitar de uma consulta de especialidade, o referenciamos para o CHUC. Antes não o podíamos fazer, agora já é uma possibilidade”, explica Judite Neves. Também a diretora do ACeS fala na necessidade de existir “bom senso”, para que o sistema funcione.

LAC_Judite Neves diretora dda USF de Vila do Conde

Judite Neves defende ainda que a LAC vai trazer eficácia e equidade no acesso aos cuidados de saúde prestados pelo SNS, e deixa a pergunta: “Porque é que um doente, que vive a poucos quilómetros de um hospital com bons níveis de resposta em determinada especialidade, é obrigado a ir para outro que é deficiente na área?”. Agora já não se obriga. Agora quem escolhe é o utente.

 

in ACONTECE Julho 2016

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